Amanheceu. São sete horas da manhã e eu
estou com preguiça de levantar da cama. Acho que acordei há trinta minutos. O
meu compromisso das oito horas eu não sei se posso considerar que seja
importante, porque eu não estou com a mínima vontade de ir. Sim, é importante,
como é importante dormir. Para falar a
verdade, não quero levantar da cama, quero dormir de novo, desligar o aparelho
despertador e me despertar quando o meu corpo quiser, quando a minha mente
achar que deve voltar a funcionar. Não, minto. Também não quero dormir, porque embora
eu esteja preguiçoso, não estou com sono o suficiente para dormir, apenas não
quero ter esforços, nem físico nem psicológico. O problema do cotidiano, aquilo
que me deixa cansado, nem sempre é a distância, a dificuldade de me locomover
dentro da cidade, o trânsito, a poluição sonora. O que me cansa de verdade são
as fofocas que tenho que ouvir logo cedo no ônibus ou na padaria, as pessoas
reclamando da vida, esposa reclamando do marido e dos filhos, pessoas falando
mal da vizinha, outras falando que a vida é ruim, que pretende desistir de tudo
e começar uma nova vida. Não só isso, mas os problemas do país que os
noticiários da televisão mostram também me cansam. É morte pra lá, acidente pra
cá, enchentes nas grandes cidades, deslizamentos de terras nas regiões
litorâneas do sudeste. Nossa! Tudo me cansa. Não quero, eu não vou levantar da
cama. Prefiro dormir de novo. Verdade, acabei me esquecendo, não estou com
sono. Não irei dormir. Mas, também, não quero acordar de verdade. Quero ficar
assim, inerte, coberto e sem muitos movimentos físicos. Quero ler uma revista,
acho. Não, revista não, porque as revistas só mostram desgraças, também, ou
moda, ou fala sobre novelas, ou fofocas, tudo aquilo que eu ouço na padaria e no
ônibus, tudo aquilo que dá audiência na televisão. Melhor não. Melhor ligar a
televisão. Não! Televisão, também, não. Pensei demais, e pensar dá sono. Acho
que é por isso que muitas pessoas preferem não pensar, evitam fazer tanto
esforço assim. Acho melhor eu dormir. Sim. Até logo!
Realmente adorei seu texto. Parabéns!
ResponderExcluir