segunda-feira, 16 de julho de 2012

A ROTINA PODE SER DIFERENTE


O dia começou tranquilo. Luciano não tinha hora para acordar, mas resolveu pular da cama mais cedo para aproveitar o sol da manhã.  O calor era agradável, embora houvesse a necessidade de manter o ventilador ligado. Abriu a porta da frente e abaixou-se, recolhendo o jornal, que estava próximo ao tapete. As notícias pareciam sempre as mesmas: acidentes envolvendo veículos de transporte, enchentes, políticos atacando a oposição, população reclamando da falta de cuidados da administração pública aos mais necessitados, e algumas vezes boas notícias, como a inauguração de uma nova escola, de um novo posto de saúde, ou reformas e doações à casas assistenciais. Mas o diferencial, aquilo que mudava sempre, eram as crônicas e os artigos. Através desses textos, Luciano podia ter uma leitura diferente, todos os dias.

Descobrira cedo, enquanto adolescente, que mesmo que uma coisa parecesse perfeita, havia sempre algum defeito. Nada nem ninguém era perfeito.

Os lugares que frequentava eram sempre os mesmos, com as mesmas pessoas. Mas a conversa era diferente, a forma de conduzir as suas ações era diferente. Não importava o lugar e nem com quem estivesse. O trabalho podia ser o mesmo, o clube, a academia, o cabeleireiro, os horários, tudo igual, porém, havia sempre oportunidades que o possibilitava fazer tudo de outras formas. Luciano sabia fazer as coisas serem diferentes, com as mesmas pessoas, nos mesmos lugares, e isso o tornava diferente.

Havia, no lugar do sossego, algo que incomodava Luciano quando pensava adiante, no futuro. Aquilo que é incerto incomoda. O passado às vezes incomoda, também.  Como recordações de infância podiam incomodar tanto um adulto formado, maduro, vivido, como ele?  Pois é, ele não tinha total controle emocional. Ninguém tem total controle da própria emoção.  Mas aquilo que Luciano fazia, todos os dias, não deixava passado algum tomar conta das novidades, do presente,  da rotina diferente que ele levava. As recordações não traziam saudade, mas o desejo de fazer tudo diferente. E fazer diferente era com ele.

Nesse dia, após ler o jornal, Luciano tomou o seu banho da manhã, e foi almoçar. À tarde, tomou um café diferente, na mesma conveniência de sempre. Na academia, onde fazia musculação todos os dias, ele fez exercícios diferentes. Na mesma locadora, ao final do dia, ele alugou um filme diferente. Ao pedir o jantar, no mesmo restaurante de sempre, ele pediu um prato diferente. Antes de dormir, tomou um livro em suas mãos, mas resolveu fazer a leitura estando sentado, e não deitado, como sempre. Leu pouco mais de dois capítulos e se deitou, adormecendo em seguida.