terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A MOEDA DA FELICIDADE


Dinheiro é necessidade, amor é felicidade.

Não digo apenas o amor, mas os bons sentimentos cultivados durante a vida, como a amizade. Sim, a amizade também é amor. A maioria das pessoas, infelizmente, não consegue explorar prazeres onde o dinheiro não possui valor: no mundo dos sentimentos.

Roberto se encaixa dentro dessa maioria.

A sua casa não era mais um lar, e sim um escritório. Roberto fazia da mesa da cozinha uma escrivaninha de assinar cheques, do sofá estante de guardar livros, do banheiro uma lan house. Pior, da cama, onde deveria ser o seu ninho de amor com Julia, sua esposa, uma lixeira de papéis amassados e amontoados. Ele saia do seu ambiente de trabalho e se dirigia para casa, mas o trabalho o seguia. Não possuía horário de descanso, muito menos horário para a desanimada mulher.

Julia não trabalhava, mas tinha tudo: carro do ano, duas funcionárias, uma para a cozinha e outra para a limpeza do restante da casa, casa na praia, roupas de todas as marcas e para todos os momentos, sapatos, bolsas. Tudo comprado com o dinheiro do maridão, famoso e rico empresário.

Mas ela sentia que faltava algo. Ela se sentia insatisfeita. Julia não tinha tudo.

Definitivamente Julia sabe que não tinha tudo. Ela não tinha um só momento de exclusividade com Roberto. Quando conseguia arrastá-lo quase nunca a um jantar fora de casa, o empresário sempre tinha de interromper a refeição e saía disfarçadamente para atender ao telefone. Quando se deitavam na cama, após Julia ter arrumado a papelada de seu cônjuge, por conta do trabalho que ele domesticou, ela era surpreendida apenas com comentários sobre a rotina de trabalho de seu companheiro, sobre os negócios fechados durante o dia ou sobre as contas a pagar ao final do mês. O jeito era virar para o lado e dormir. Até dormir a deixava exausta.
Roberto podia dar tudo, desde joias caríssimas até estruturas domiciliares, mas não sabia dar o essencial, o simples, o barato, aquilo de que todos têm direito. Não sabia amar. A ânsia de enriquecer-se o tornava desatencioso, frio, inquieto.

O amor não suporta pressa, pede calor, necessita de atenção.

A vontade de ter filhos foi deixando Julia. A vontade de amar Roberto foi saindo de dentro dela, como pássaros que escapam da gaiola e deixam os lares.
Para reconquistá-la, Roberto enviava presentes à Julia, que eram entregues pelo motorista da empresa, deixava caixinhas contendo joias em cima da cama, escondia sapatos novos atrás da porta do banheiro. Que ilusão! Ele não possuía para refletir e descobrir que um beijo bem molhado, que uma massagem nas costas, que uma noite de amor intenso ou apenas um simples jantar com os celulares desligados reconquistariam aquele amor adormecido, que permanecia em Julia, mas não era reacendido todos os dias.

O casamento acabou.

Quando Roberto descobriu que a sua companheira não precisava de quatro casas, sendo uma delas na praia, não precisava de uma gaveta inteira de colares, e nem de uma sapateira entupida de sapatos, já era tarde demais. Ele não tinha tempo nem para chorar, muito menos para tentar de novo, pois a empresa passava por momentos difíceis, e a imagem de bom empresário precisava ser reconquistada.
A empresa faliu, e junto com ela a felicidade do pobre rapaz. Ele que apostou toda a sua felicidade em algo material, viu a sua própria felicidade sendo negociada a troco de dinheiro, quando precisou vender parte de seu percentual de participação nos negócios da firma aos seus sócios
.
O dinheiro não é capaz de manter um amor, nem mesmo de conquistá-lo. Também não compra uma amizade. A felicidade existe para aqueles que têm a capacidade de amar e ser amado, seja na amizade, seja no namoro, seja no casamento.

A moeda que compra o amor é ele próprio.

Assim, também, comprará a felicidade.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

ACEITAÇÃO E SUPERAÇÃO

Superar não é esquecer. Superar é aceitar aquilo que aconteceu e seguir.

Ninguém consegue esquecer os traumas. Todo trauma da infância é carregado durante a vida toda, querendo ou não. Ninguém quer, vamos concordar. Mas a vida nem sempre acontece como queremos.

A morte que não respeita a lei natural dentro de uma família talvez seja um dos piores traumas que existem. A mãe e o pai que perde um filho, o avô e a avó que perde um neto, o tio e a tia que perde um sobrinho, enfim, a morte que vem precocemente aos mais novos, e não primeiramente aos mais velhos, como seria o mais aceitável. Fatalidade ou não, é difícil lidar com morte. Depois, talvez, as separações. Membros de uma mesma família que brigam e se distanciam e casais que se separam são dois exemplos. São infinidades de acontecimentos ao longo da vida que podem nos desanimar.

Não existe morte que pode ser esquecida. Não existe separação que pode ser esquecida. Todas são traumas. Existem, porém, meios de aceitar aquilo que aconteceu e impedir longas tristezas ao longo da caminhada terrena.

Não há sofrimento que não possa ser superado.

Ninguém é totalmente autossuficiente, que não precise de ajuda, que possa resolver tudo sozinho. Procurar ajuda não é vergonha, seja ela espiritual, seja na literatura, seja na religião.
Chorar e cultivar a dor não quer dizer que a pessoa se importa. Muitos não choram mas sofrem por dentro. Sofrimento não é regra.

Deixar que a tristeza sufoque ou não é pessoal, faz parte da motivação diária. Nem todo tipo de ajuda é eficaz, mas cabe a cada um escolher aquela que gera melhor resultado. Achar que deve sofrer e ficar desmotivado a viver para o resto da vida é um egoísmo sem tamanho.

Esquecendo ou não os traumas, o sofrimento não pode ser duradouro e sufocante. Uma vida infeliz não merece ser vivida.

A dor não deve ser eterna.