Dinheiro é necessidade, amor é
felicidade.
Não digo apenas o amor, mas os
bons sentimentos cultivados durante a vida, como a amizade. Sim, a amizade
também é amor. A maioria das pessoas, infelizmente, não consegue explorar prazeres
onde o dinheiro não possui valor: no mundo dos sentimentos.
Roberto se encaixa dentro dessa
maioria.
A sua casa não era mais um lar, e
sim um escritório. Roberto fazia da mesa da cozinha uma escrivaninha de assinar
cheques, do sofá estante de guardar livros, do banheiro uma lan house. Pior, da
cama, onde deveria ser o seu ninho de amor com Julia, sua esposa, uma lixeira
de papéis amassados e amontoados. Ele saia do seu ambiente de trabalho e se
dirigia para casa, mas o trabalho o seguia. Não possuía horário de descanso,
muito menos horário para a desanimada mulher.
Julia não trabalhava, mas tinha
tudo: carro do ano, duas funcionárias, uma para a cozinha e outra para a limpeza
do restante da casa, casa na praia, roupas de todas as marcas e para todos os
momentos, sapatos, bolsas. Tudo comprado com o dinheiro do maridão, famoso e
rico empresário.
Mas ela sentia que faltava algo.
Ela se sentia insatisfeita. Julia não tinha tudo.
Definitivamente Julia sabe que não
tinha tudo. Ela não tinha um só momento de exclusividade com Roberto. Quando
conseguia arrastá-lo quase nunca a um jantar fora de casa, o empresário sempre
tinha de interromper a refeição e saía disfarçadamente para atender ao
telefone. Quando se deitavam na cama, após Julia ter arrumado a papelada de seu
cônjuge, por conta do trabalho que ele domesticou, ela era surpreendida apenas
com comentários sobre a rotina de trabalho de seu companheiro, sobre os
negócios fechados durante o dia ou sobre as contas a pagar ao final do mês. O
jeito era virar para o lado e dormir. Até dormir a deixava exausta.
Roberto podia dar tudo, desde joias
caríssimas até estruturas domiciliares, mas não sabia dar o essencial, o
simples, o barato, aquilo de que todos têm direito. Não sabia amar. A ânsia de
enriquecer-se o tornava desatencioso, frio, inquieto.
O amor não suporta pressa, pede
calor, necessita de atenção.
A vontade de ter filhos foi
deixando Julia. A vontade de amar Roberto foi saindo de dentro dela, como
pássaros que escapam da gaiola e deixam os lares.
Para reconquistá-la, Roberto
enviava presentes à Julia, que eram entregues pelo motorista da empresa, deixava caixinhas contendo joias em cima da cama, escondia sapatos novos
atrás da porta do banheiro. Que ilusão! Ele não possuía para refletir e descobrir que um beijo bem molhado, que uma massagem nas costas, que uma noite
de amor intenso ou apenas um simples jantar com os celulares desligados reconquistariam
aquele amor adormecido, que permanecia em Julia, mas não era reacendido todos
os dias.
O casamento acabou.
Quando Roberto descobriu que a
sua companheira não precisava de quatro casas, sendo uma delas na praia, não
precisava de uma gaveta inteira de colares, e nem de uma sapateira entupida de
sapatos, já era tarde demais. Ele não tinha tempo nem para chorar, muito menos
para tentar de novo, pois a empresa passava por momentos difíceis, e a imagem
de bom empresário precisava ser reconquistada.
A empresa faliu, e junto com ela
a felicidade do pobre rapaz. Ele que apostou toda a sua felicidade em algo
material, viu a sua própria felicidade sendo negociada a troco de dinheiro,
quando precisou vender parte de seu percentual de participação nos negócios da
firma aos seus sócios
.
O dinheiro não é capaz de manter um
amor, nem mesmo de conquistá-lo. Também não compra uma amizade. A felicidade
existe para aqueles que têm a capacidade de amar e ser amado, seja na amizade, seja
no namoro, seja no casamento.
A moeda que compra o amor é ele
próprio.
Assim, também, comprará a
felicidade.