Romeu voltou para casa mais cedo.
Esperava encontrar a mulher e os filhos na mesa do jantar, como era de costume.
Ao entrar pela porta da cozinha, percebeu um silêncio incômodo, diferente
daquilo que costumava presenciar, já que as crianças o esperavam antes do sono
diário. Na sala, a televisão estava em volume baixo, e a luz central, que
iluminava o tapete cor de vinho, iluminava sozinha, já que as outras se
encontravam apagadas. Romeu subiu as escadas, provavelmente Sara estaria lendo
as lindas estórias infantis enquanto as crianças se afundavam nas imaginações, até
pegarem no sono.
Enganou-se. A porta do quarto das
crianças estava aberta, assim como a porta do quarto do casal, dele e de sua
esposa.
Nenhum sinal de gente na casa.
Tentou algum contato no celular da esposa, ligou na casa da sogra, também para
a Beatriz, melhor amiga de Sara, mas não obteve êxito. Ninguém pôde
informar-lhe o destino de Sara, nem das crianças. Relaxou. Ligou a torneira da
banheira, jogou óleo de amêndoas, tomou seu sabonete com flagrância de perfume
de rosas e preparou um delicioso e espumante banho de fim de noite, embora
soubesse que a noite não teria fim, se não fosse ao lado de sua amada.
A noite só era noite se não
fugisse do hábito. Esposa, crianças, barulho, luzes acesas pela casa toda, ao
contrário, não seria a mesma coisa, as mesmas noites, os mesmos dias, a mesma
segurança. O hábito traz segurança, a mudança o desconforto. Após o banho,
vestiu-se, e pensou. A saída era esperar, mesmo que de maneira ansiosa. Existem
momentos que não podem ser adiantados, e a única saída é a esperança, mesmo que
não agrade como a certeza. Depois de tanto esperar, deitou em sua cama e cochilou.
Acordou e colocou a mão para o
lado, já que os olhos mal abriam, por conta da claridade que vinha da janela
lateral, talvez por ter se esquecido de fechá-la na noite passada, já que não programara
o cochilo espontâneo. Era a primeira vez que tinha acordado com a luz do sol em
seu rosto. Caso tivesse pensado, teria fechado a janela, como fazia todas as
noites, desde que mudara para a Rua Jardim Florido, no verão de 2005. Não
fechava, não por medo do amanhecer, mas por medo da insegurança, já que aquele
bairro era estranho e barulhento, talvez pelos passos e vozes dos estudantes
que faziam o caminho do regresso, do colégio até as suas casas. Acostumou-se
com a janela fechada, mas a claridade da mudança trazia um ar agradável e um
prazer diferente, que a mesmice não conseguia lhe proporcionar. Sua esposa
estava dormindo como um anjo. Esfregou os olhos e confirmou o que via. Dirigiu-se
ao quarto das crianças, e os filhos, Marcos de dez anos e Marcela de treze, também
estavam em um sono empolgante.
Não sabia ao certo se era um
sonho ou se realmente eles se fizeram ausentes na noite passada. Mas isso não importava.
O importante é que agora eles estavam todos ali, completando a casa, dando um
ar de segurança, um conforto conquistado pela certeza de estarem bem.
O importante é estar bem.