segunda-feira, 28 de maio de 2012

O HÁBITO TRAZ SEGURANÇA


Romeu voltou para casa mais cedo. Esperava encontrar a mulher e os filhos na mesa do jantar, como era de costume. Ao entrar pela porta da cozinha, percebeu um silêncio incômodo, diferente daquilo que costumava presenciar, já que as crianças o esperavam antes do sono diário. Na sala, a televisão estava em volume baixo, e a luz central, que iluminava o tapete cor de vinho, iluminava sozinha, já que as outras se encontravam apagadas. Romeu subiu as escadas, provavelmente Sara estaria lendo as lindas estórias infantis enquanto as crianças se afundavam nas imaginações, até pegarem no sono.

Enganou-se. A porta do quarto das crianças estava aberta, assim como a porta do quarto do casal, dele e de sua esposa.

Nenhum sinal de gente na casa. Tentou algum contato no celular da esposa, ligou na casa da sogra, também para a Beatriz, melhor amiga de Sara, mas não obteve êxito. Ninguém pôde informar-lhe o destino de Sara, nem das crianças. Relaxou. Ligou a torneira da banheira, jogou óleo de amêndoas, tomou seu sabonete com flagrância de perfume de rosas e preparou um delicioso e espumante banho de fim de noite, embora soubesse que a noite não teria fim, se não fosse ao lado de sua amada.

A noite só era noite se não fugisse do hábito. Esposa, crianças, barulho, luzes acesas pela casa toda, ao contrário, não seria a mesma coisa, as mesmas noites, os mesmos dias, a mesma segurança. O hábito traz segurança, a mudança o desconforto. Após o banho, vestiu-se, e pensou. A saída era esperar, mesmo que de maneira ansiosa. Existem momentos que não podem ser adiantados, e a única saída é a esperança, mesmo que não agrade como a certeza. Depois de tanto esperar, deitou em sua cama e cochilou.

Acordou e colocou a mão para o lado, já que os olhos mal abriam, por conta da claridade que vinha da janela lateral, talvez por ter se esquecido de fechá-la na noite passada, já que não programara o cochilo espontâneo. Era a primeira vez que tinha acordado com a luz do sol em seu rosto. Caso tivesse pensado, teria fechado a janela, como fazia todas as noites, desde que mudara para a Rua Jardim Florido, no verão de 2005. Não fechava, não por medo do amanhecer, mas por medo da insegurança, já que aquele bairro era estranho e barulhento, talvez pelos passos e vozes dos estudantes que faziam o caminho do regresso, do colégio até as suas casas. Acostumou-se com a janela fechada, mas a claridade da mudança trazia um ar agradável e um prazer diferente, que a mesmice não conseguia lhe proporcionar. Sua esposa estava dormindo como um anjo. Esfregou os olhos e confirmou o que via. Dirigiu-se ao quarto das crianças, e os filhos, Marcos de dez anos e Marcela de treze, também estavam em um sono empolgante.

Não sabia ao certo se era um sonho ou se realmente eles se fizeram ausentes na noite passada. Mas isso não importava. O importante é que agora eles estavam todos ali, completando a casa, dando um ar de segurança, um conforto conquistado pela certeza de estarem bem.

O importante é estar bem.