domingo, 31 de março de 2013

PRESA NA LIBERDADE


Já não sabia mais como agir diante da situação. Tentara várias vezes antes da última separação. Perdera a conta de quantas separações haviam somado. Uma soma de desgostos, de ofensas, de revoltas a troco de nada.

Sim, nada era concreto. Tudo era paixão, fogo ardente sem amor.

A paixão é concreta, mas dentro do amor. Fora é outra coisa.

Mariana sabia muito bem sobre a paixão. Um dia belas palavras, outro brigas e xingamentos. Tudo aquilo que conseguia de positivo com ele durava pouco, semanas ou algum momento. Virou hábito, e tudo que é hábito e não é saudável, destrói.

O hábito só compensa quando é saudável.

Ele havia se acostumado com o hábito da ilusão. Tinha tudo nas mãos: algumas mulheres, fama dentro do seu grupo de convívio, um corpo bonito, presença marcante. Famoso conquistador. Nas festas, sempre acompanhado por amigos e mulheres. Possuía um pouco de tudo, também o amor de Mariana.

Mas as posses eram passageiras, como o dinheiro que passa de mão em mão, que circula, que não fica.

Ele, portanto, estava sempre rodeado de pessoas, mas nunca as mesmas pessoas. Estava sempre rodeado de mulheres, mas nunca as mesmas mulheres. Tinha tudo e ao mesmo tempo nada. Nada concreto, tudo passageiro.

O amor de Mariana talvez não fosse concreto, no sentido de prática, era apenas sentimento, mas era um sentimento real. Se fosse passar, ainda não havia passado. Sabia que o amor era presente, porque a dor era presente.

Mariana pensava em desistir, não porque queria, mas porque era necessário. Mas o pensamento nada vale sem a ação.

Para o pensamento ser válido, a ação deve ser favorável às vontades.

Mariana não errava, uma vez que servia ao sentimento e satisfazia as suas vontades, mas não se tratava apenas de satisfação momentânea. Ela pensava no momento e depois, ele no momento, apenas. Ela sabia muito bem o que era viver de incertezas, ele sabia muito bem ter certezas sobre ela.

Ele queria liberdade. A liberdade que ele buscava era a mesma liberdade de quem se sente livre por não pertencer a nada, não se apegar a nada. A falsa e famosa liberdade, a liberdade de quem não sabe amar. A liberdade de Mariana se encontrava presa dentro de si, dentro do sentimento, dentro da maior liberdade que uma pessoa pode possuir: o amor.

Liberdade não é se desapegar de tudo. Liberdade é se prender em tudo que é saudável.

Embora ela sofresse um pouco mais, ela sonhava, enquanto ele vivia dentro das suas falsas teorias de liberdade. Ela era quem realmente tinha tudo, embora parecesse o contrário.

Não existe liberdade mais completa do que a liberdade que se encontra presa dentro do amor. 

Ele agia como a maioria agia, como a maioria queria que ele agisse. A sua opinião era a opinião da maioria. Ela agia como o coração pedia, como a emoção pedia, como o sentimento pedia.

Ela era livre. Ele não.