domingo, 21 de março de 2010

BONS MOMENTOS



          Há alguns dias no calçadão, divulgando o projeto Saúde Cidadã com mais alguns DeMolays, fui abordado por um velho rapaz, o senhor Guimarães Máximo, 93 anos de idade, bem simpático por sinal, me perguntando como seria o projeto. Ao explicar, ele pediu um momento de minha atenção, pois queria me contar fatos de sua vida. Lógico, não poderia negar uma parte de minha atenção para ele – apesar do calor insuportável que fazia. Deixei a conversa fluir, e não demonstrei pressa alguma. Dando voltas e voltas na conversa, com passagens de sua juventude e paqueras também, ele começou a falar do assunto principal desse meu texto: seu relacionamento amoroso. Ele me disse que ficou casado com sua esposa durante cinquenta e quatro anos, e que há sete meses, ela morrera. Com uma disposição de dar inveja, mas também com os olhos avermelhados, digno de quem não contera a emoção, ele me disse que sente muito a falta dela, e que desde então, não conseguia mais sentir aquela paz que sentia quando estava na companhia dela. 


          Confesso ter ficado por alguns instantes com um nó na garganta, e sem saber como continuar o assunto, e como também com palavras, confortá-lo. Tentei rapidamente mudar de assunto, mas ele insistiu no assunto, não mais de sua esposa, mas sim sobre casamentos. O que me chamou atenção em nossa conversa foi sua visão sobre casamento, que pela idade, não é de se espantar. Disse que durante sua vida toda, ele já presenciou várias formas de casamento, tanto de seus amigos e conhecidos, ou até seus familiares. Disse que ultimamente, o que ele mais vê é casamento por interesses econômicos, união de negócios, beleza física entre os parceiros, menos por amor, mas amor verdadeiro, não apenas atração – se é que atração pode ser chamada de amor. Terminou então dizendo que poucos vão sentir tudo que ele teve a oportunidade de sentir, e que também poucos vão conhecer o verdadeiro sentido do amor, quando a verdadeira essência do amor foi deixada um pouco de lado nos dias atuais – não que não haja mais, mas antes era com mais freqüência – e seguiu com sua ultima frase, com a mão no meu ombro, dizendo para me casar quando as condições me permitirem, logicamente, e quando eu encontrar uma mulher que eu ame de verdade, mas que meu amor seja apenas pelo que ela é, e não pelo que ela ou a família dela possui, porque juntos podemos ter tudo que quisermos.


          Foram aproximadamente 15 minutos de conversa, que olha... Compensaram o calor! Isso me fez repensar tudo que há tempos venho refletindo sobre: o amor. O que o Senhor Guimarães Máximo me disse, talvez muitas pessoas devessem ter a oportunidade de ouvir também, não como uma forma de orientação apenas, mas sim, para ter a oportunidade de não só ouvir, mas sentir de uma pessoa que viveu aquilo que está dizendo, e sentir também o impacto da reação da pessoa quando cita, com grande inocência, um fato tão doloroso como este. O que ele me disse teve grande importância para mim, e espero que ao lerem, vocês consigam tirar algo de bom do texto, ou apenas alguns minutos de reflexão sobre as palavras desse jovem simpático de 93 anos de idade.