quarta-feira, 29 de maio de 2013

AMAR, DESEJAR, VIVER

No relacionamento amoroso não somos dois, somos um. Duas partes que completam um corpo, que formam o casal.
  
A individualidade deve ser mantida, como as tarefas diárias, os compromissos particulares, os estudos, o trabalho, o lazer. Mas os planos futuros, os desejos, os objetivos de vida devem ser pensados a dois, sem manter a individualidade.

Namoro é presente, casamento também. Mas os apaixonados antecipam o futuro e vivem o sonho de futuramente estarem juntos. Para os apaixonados não existe tempo, o presente é passado e o futuro é presente. Tudo é agora, já!

Quando amamos, amamos também os objetivos de vida da outra pessoa. Se somos o que pensamos e o que fazemos, então amamos aquilo que o outro pensa e faz.

Pensamos pelo outro e esperamos que o outro pense por si e por nós mesmos. Progredimos se soubermos que o outro também deseja progredir, e somente crescemos se sentirmos que o outro também está crescendo.

Cada um deve ansiar crescer individualmente para depois querer crescer junto com alguém. E Isa sabia enxergar isso, mas não posso dizer o mesmo de Rogério.

Isa fazia planos para o casal desde que passou a viver o relacionamento, há pouco mais de quatro anos. Ela não somente estava com o ele como se sentia ser, também, o próprio Rogério. Ela era o casal, porque vivia duas vidas em uma. Os seus planos passaram a depender dos planos do namorado, não porque Isa dependia dele para ser feliz, mas porque escolheu dividir com esse rapaz a felicidade que já possuía. Ela era feliz sozinha, e com ele essa felicidade aumentava.

Quem ama não divide felicidade. Multiplica.

Isa sonhava com a faculdade de Química, sonhava em construir família, sonhava com o emprego dos dois. Sabia que um sonho dependia do outro, que o emprego como profissional de química dependia da faculdade, e que o dinheiro necessário para construir a sua família dependia do dinheiro do bom emprego no ramo da química que ela só conseguiria se conseguisse se formar. Ela investia nos seus próprios sonhos e os incluía dentro dos planos do casal. Os seus sonhos eram compartilhados com Rogério, que ao contrário, não sentia necessidade de sonhar a dois, e não porque ele era egoísta ou individualista, mas porque lhe faltava os seus próprios sonhos.

Rogério possuía poucos sonhos. O futuro era planejado apenas com o querer, mas faltava o fazer. Dentro de quatro anos, ele evoluiu pouco. Isa o conheceu de um jeito, e ele ainda era o mesmo. Trabalhava às vezes e não estudava. Isa até procurava incentiva-lo a escolher um curso, almejar um novo trabalho, fazer com que tivesse novas expectativas de vida, de futuro, de casal. Primeiro a expectativa de futuro próprio e consequentemente a do casal. Rogério até demostrou algumas vezes estar decidido a buscar um novo emprego e estudar algum curso, mas este longo tempo que tivera para decidir ainda pareceu-lhe pouco, porque as vontades não saíram das palavras, não aconteceram. Isa se esforçava sozinha, sonhava sozinha, crescia sozinha.

O gosto pelo namoro, aos poucos, foi se perdendo. Ela, que vivia o futuro no presente e fazia o presente valer a pena para a construção do futuro do casal, não conseguia perceber o mesmo esforço vindo de Rogério, que não possuía grande expectativa de vida própria, e menos ainda expectativa de vida duradoura para o casal.

O sonho é o alimento do amor. Quem não sonha por si, não sonha a dois. Quem não sonha é incapaz de amar.

O namoro continuou, mas sem futuro, sem alimento.