No relacionamento amoroso não somos dois, somos um. Duas
partes que completam um corpo, que formam o casal.
A individualidade deve ser mantida, como as tarefas diárias,
os compromissos particulares, os estudos, o trabalho, o lazer. Mas os planos
futuros, os desejos, os objetivos de vida devem ser pensados a dois, sem manter
a individualidade.
Namoro é presente, casamento também. Mas os apaixonados
antecipam o futuro e vivem o sonho de futuramente estarem juntos. Para os
apaixonados não existe tempo, o presente é passado e o futuro é presente. Tudo
é agora, já!
Quando amamos, amamos também os objetivos de vida da outra
pessoa. Se somos o que pensamos e o que fazemos, então amamos aquilo que o
outro pensa e faz.
Pensamos pelo outro e esperamos que o outro pense por si e
por nós mesmos. Progredimos se soubermos que o outro também deseja progredir, e
somente crescemos se sentirmos que o outro também está crescendo.
Cada um deve ansiar crescer individualmente para depois
querer crescer junto com alguém. E Isa sabia enxergar isso, mas não posso dizer
o mesmo de Rogério.
Isa fazia planos para o casal desde que passou a viver o relacionamento,
há pouco mais de quatro anos. Ela não somente estava com o ele como se sentia
ser, também, o próprio Rogério. Ela era o casal, porque vivia duas vidas em
uma. Os seus planos passaram a depender dos planos do namorado, não porque Isa
dependia dele para ser feliz, mas porque escolheu dividir com esse rapaz a felicidade
que já possuía. Ela era feliz sozinha, e com ele essa felicidade aumentava.
Quem ama não divide felicidade. Multiplica.
Isa sonhava com a faculdade de Química, sonhava em construir família, sonhava com o emprego dos dois. Sabia
que um sonho dependia do outro, que o emprego como profissional de química
dependia da faculdade, e que o dinheiro necessário para construir a sua família
dependia do dinheiro do bom emprego no ramo da química que ela só conseguiria
se conseguisse se formar. Ela investia nos seus próprios sonhos e os incluía
dentro dos planos do casal. Os seus sonhos eram compartilhados com Rogério, que
ao contrário, não sentia necessidade de sonhar a dois, e não porque ele era
egoísta ou individualista, mas porque lhe faltava os seus próprios sonhos.
Rogério possuía poucos sonhos. O futuro era planejado apenas
com o querer, mas faltava o fazer. Dentro de quatro anos, ele evoluiu pouco.
Isa o conheceu de um jeito, e ele ainda era o mesmo. Trabalhava às vezes e não
estudava. Isa até procurava incentiva-lo a escolher um curso, almejar um novo
trabalho, fazer com que tivesse novas expectativas de vida, de futuro, de
casal. Primeiro a expectativa de futuro próprio e consequentemente a do casal.
Rogério até demostrou algumas vezes estar decidido a buscar um novo emprego e
estudar algum curso, mas este longo tempo que tivera para decidir ainda pareceu-lhe
pouco, porque as vontades não saíram das palavras, não aconteceram. Isa se esforçava
sozinha, sonhava sozinha, crescia sozinha.
O gosto pelo namoro, aos poucos, foi se perdendo. Ela, que
vivia o futuro no presente e fazia o presente valer a pena para a construção do
futuro do casal, não conseguia perceber o mesmo esforço vindo de Rogério, que
não possuía grande expectativa de vida própria, e menos ainda expectativa de
vida duradoura para o casal.
O sonho é o alimento do amor. Quem não sonha por si, não sonha
a dois. Quem não sonha é incapaz de amar.
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